Você já sentiu uma falta de ar enquanto estava dormindo? Ou acordou de repente, com a sensação de que alguém estava em cima de você? Talvez tenha sido só uma impressão ruim que te atormentou no meio da madrugada. Mas também pode ser que você tenha recebido a visita da Pisadeira.
Aliás, muitas pessoas fazem descrições tão incrivelmente parecidas sobre essa mesma visão de uma criatura durante o sono que isso provoca a curiosidade de uma multidão.
Nos dias de hoje, com o avanço da medicina, todos nós sabemos que a Paralisia do Sono é um episódio decorrente do Estado REM, mas este fenômeno anatômico ainda é muito atribuído a várias criaturas do desconhecido, o que inclui esta figura muito conhecida do Folclore Brasileiro.
A Pisadeira é conhecida principalmente na região Sudeste do país. De acordo com a lenda, durante a madrugada, ela pisa na barriga de quem está com o estômago cheio. Por causa disso, a figura provoca falta de ar.
Trata-se de uma criatura descrita como sendo alta, magra, com unhas enormes, dedos bastante compridos e secos, olhos vermelhos e arregalados, nariz comprido, queixo grande, dentes verdes, cabelos brancos, está sempre usando chinelos, e é também conhecida por suas gargalhadas assustadoras.
De acordo com as lendas, a Pisadeira anda grande parte do tempo pelos telhados das casas, parando em uma delas e ficando a observar o movimento em seu interior. Dizem que quando alguém vai dormir de barriga cheia após o jantar, a Pisadeira entra em ação, saindo de seu esconderijo e pisando no peito de sua vítima, que fica em estado de paralisia, sendo assim, a vítima da Pisadeira acompanha tudo de forma consciente, paralisada, o que causa uma baita de uma agonia, já que não consegue fazer nada para escapar.
Durante o dia, ela observa. Na calada da noite, age. A casa pode estar em silêncio, mas quem é sensível sente a presença no ar. Há séculos, os mais velhos alertam: "Nunca durma de barriga cheia". O conselho, passado de geração em geração, carrega uma sabedoria camuflada de superstição. E se a ciência ainda não explicava o pânico da noite, o folclore tratava de dar forma à angústia.
A Pisadeira, com seu olhar fixo e corpo seco como galho de árvore morta, caminha leve sobre telhas e madeira. Seu objetivo? Aqueles que desafiaram a digestão. Aqueles que ignoraram o peso do jantar farto antes do descanso.
Muitos que cruzaram com ela relatam a mesma sensação: olhos abertos, corpo imobilizado, coração acelerado. A respiração presa no peito, como se uma mão invisível esmagasse o ar. E, acima de tudo, uma presença. Assustadora. Implacável.
Mas nem tudo se resume ao medo popular. Recentemente, um estudo feito por uma equipe de neurologistas brasileiros, em parceria com centros de pesquisa do Canadá e Japão, analisou centenas de casos de paralisia do sono em pacientes com distúrbios noturnos. O que encontraram surpreendeu até os mais céticos.
Pacientes que dormiam em determinadas posições — especialmente de barriga para cima — e logo após refeições pesadas, apresentavam taxas elevadas de episódios de paralisia, acompanhadas por alucinações visuais e sensação de sufocamento. E mais: muitos desses relatos incluíam figuras de aparência semelhante, sempre com características compatíveis com a descrição folclórica da Pisadeira.
Segundo o estudo, há uma combinação perigosa entre refluxo gástrico, apneia do sono e estados mentais fragmentados, que pode desencadear essas experiências intensas. A imagem assustadora, segundo os pesquisadores, seria uma forma do cérebro interpretar o desconforto físico e transformá-lo em uma narrativa visual.
A ciência explica. Mas o povo já sabia.
No fim das contas, se a Pisadeira existe ou não, ainda pode ser debatido. Mas uma coisa é certa: dormir de barriga cheia nunca foi uma boa ideia. Seja por saúde, seja por medo, é melhor seguir o conselho dos antigos.
E antes de deitar, talvez seja bom lembrar de esfregar os pés três vezes. Vai que...