O estudo tinha outro propósito. Oficialmente, o projeto coordenado pelo Dr. Liang Wei e sua equipe de neurologistas era voltado para a análise de distúrbios respiratórios noturnos. O foco era apneia, ronco crônico, microdespertares. Mas como parte do protocolo, os pacientes eram convidados a relatar também o conteúdo dos sonhos — uma prática complementar, mas não obrigatória.
Em poucas semanas, os relatos chamaram a atenção de uma das pesquisadoras júnior, a Dra. Mei Lin. Ela notou um detalhe curioso: pacientes que dormiam predominantemente do lado esquerdo descreviam sonhos mais intensos, muitas vezes angustiantes, com temáticas de medo, perseguição, queda ou perda.
No início, isso parecia apenas um ruído estatístico. Mas Mei era metódica. Separou todos os registros dos últimos meses e fez algo que ninguém havia feito até então: cruzou os dados com a posição corporal captada pelas pulseiras de monitoramento do sono.
O que ela encontrou foi uma tendência clara demais para ser ignorada. Dos pacientes que dormiam em sua maior parte do tempo virados para o lado esquerdo, quase 39% relataram pesadelos frequentes. Já entre os que dormiam do lado direito, esse número mal passava de 14%.
Dr. Liang, cético por natureza, duvidou. “Pode ser sugestão, pode ser estresse”, disse. Mas autorizou uma nova etapa do estudo, dessa vez controlada. Os pacientes seriam orientados a dormir apenas de um dos lados, por uma semana, e depois trocar.
O resultado? Repetiu-se.
No grupo que passou a dormir exclusivamente do lado esquerdo, houve um aumento médio de 27% nos relatos de sonhos angustiantes. E o mais curioso: pacientes que normalmente não tinham pesadelos, começaram a tê-los. Já os que passaram a dormir do lado direito notaram um padrão de sono mais leve, com sonhos neutros ou até positivos.
Foi então que o estudo mudou de rumo. O que era sobre apneia, agora virou uma investigação neurofisiológica. Consultaram especialistas em digestão, cardiologistas, neurologistas. As hipóteses foram se empilhando: talvez a pressão do estômago, mais intensa quando deitado do lado esquerdo, interferisse no conforto respiratório. Talvez fosse o fluxo gástrico que causava microdespertares e fragmentava o sono REM, alterando a arquitetura dos sonhos.
Ou talvez fosse apenas mais uma daquelas coisas estranhas que o corpo humano faz — e que a ciência só descobre por acaso.
No fim, o artigo foi publicado com um título técnico e discreto: "Associação entre a lateralidade do sono e a vividez onírica: uma análise exploratória". Mas internamente, na equipe, o estudo passou a ser chamado por um nome muito mais direto:
"O experimento dos sonhos tortos."
Sim, ao que tudo indica, dormir do lado esquerdo pode realmente aumentar a frequência de pesadelos. E agora, você sabe disso.
A pergunta que fica é: para que lado você vai virar hoje à noite?