Sua coceira tem nome — e tratamento!


 Durante semanas, ela evitava usar sandálias. As mãos estavam sempre escondidas. Os dedos ardiam, coçavam, e às vezes, até sangravam. A princípio, parecia apenas uma alergia comum. Talvez algo que passaria com uma pomada qualquer, uma dessas vendidas sem receita na farmácia. Mas não passou. E cada noite parecia pior.

Muitas pessoas lidam com isso em silêncio. Sentem vergonha, medo de parecerem desleixadas. O que poucos sabem é que milhares de brasileiros convivem com uma condição chamada disidrose — uma forma de eczema que provoca bolhas, coceira intensa e inflamação, geralmente nas mãos e nos pés. E o pior? Poucos profissionais a reconhecem de imediato.

A pele começa a ficar sensível, às vezes com pequenas bolhas de água que se acumulam em grupos. É comum confundir com alergia a produtos de limpeza, micoses ou até escabiose. Mas há uma diferença cruel: na disidrose, o desconforto não é só físico. É emocional. A coceira chega a ser desesperadora. E, sem um diagnóstico correto, muitos vivem anos na busca por alívio para coceira, tentando de tudo: chás, receitas caseiras, pomadas de corticoide e medicamentos para alergia.

Recentemente, um estudo liderado por uma equipe da Universidade de São Paulo, em parceria com instituições de pesquisa em saúde dermatológica da Europa, trouxe luz a esse sofrimento ignorado. Durante dois anos, dermatologistas acompanharam pacientes que sofriam com coceira severa, bolhas recorrentes, vermelhidão e descamação nas extremidades.

Em comum, todos relatavam que os sintomas pioravam em momentos de estresse, exposição ao calor ou contato com detergentes e produtos químicos. Mas um fator se destacou: a qualidade do sono. Pacientes que apresentavam disidrose frequentemente sofriam com insônia, formigamento noturno, ansiedade e, em muitos casos, episódios de paralisia do sono.

A ciência começa a perceber que há um elo entre condições dermatológicas crônicas e distúrbios neurológicos leves, como microdespertares, aumento da atividade cerebral durante a fase REM e sonhos vívidos. E tudo começa com a pele ardendo no escuro, no silêncio de um quarto onde o sono vira batalha.

“Era como se eu estivesse sendo queimada por dentro das mãos”, relata Ana Paula, 32 anos, uma das pacientes do estudo. “Coçava tanto que eu chorava. Dormia com as mãos dentro de água gelada ou enroladas em panos com pomadas. Passei por seis médicos até ouvir a palavra ‘disidrose’.”

O estudo também analisou o impacto do estilo de vida e da alimentação. Pacientes que consumiam alimentos ultraprocessados, refrigerantes e cafeína em excesso apresentavam maior incidência de surtos. Por outro lado, a ingestão regular de ômega-3, vitaminas do complexo B e magnésio ajudou a reduzir a frequência das crises.

Entre os principais tratamentos recomendados estão:

  • Cremes com corticosteroides

  • Pomadas imunomoduladoras (como tacrolimus e pimecrolimus)

  • Fototerapia em casos mais graves

  • Técnicas de relaxamento para controle da ansiedade

  • Evitar exposição prolongada à água quente, detergentes, sabão em pó e álcool em gel

Mas o mais importante, segundo os especialistas, é quebrar o ciclo. A disidrose não é só uma condição da pele — é um reflexo do que acontece dentro do corpo. E também dentro da mente.

Além disso, a coceira ininterrupta afeta a autoestima, o convívio social e até a capacidade de trabalho. É comum que pessoas com esse tipo de dermatite evitem dar as mãos, digitar por muito tempo ou até usar sapatos fechados. A doença, embora não contagiosa, se torna invisível no olhar alheio — e profundamente debilitante para quem a sente.

Por isso, se você tem enfrentado bolhas com coceira intensa, sensação de ardência, pele ressecada que racha e sangra, é hora de buscar um dermatologista. Evite se automedicar ou seguir dicas aleatórias da internet. O caminho para o alívio começa com o diagnóstico.

E se você já tentou de tudo, saiba que não está só. A ciência avança. As soluções existem. E a pele, mesmo quando machucada, sempre pode voltar a respirar.

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