Nunca faça isso se você tem uma namorada!


 Durante a madrugada, algo estranhamente incômodo tomou conta do corpo dele. Mas como acontece com qualquer desconforto durante o sono profundo, seu cérebro simplesmente ignorou. Acordou com aquela preguiça típica de quem foi dormir tarde demais — e quando olhou para as mãos, arregalou os olhos.

— “Mas que porra…”, pensou em voz baixa, observando o dedo indicador completamente enrrugado. Mas não era só isso: estava murcho, esbranquiçado, parecendo que tinha passado três horas em uma piscina. Só que ele não havia nem tomado banho antes de dormir.

A preocupação começou com um tom de curiosidade. Virou a mão, esfregou o dedo, tentou lembrar se tinha mexido com água, gelo, algo químico. Nada. O pânico bateu. Foi quando resolveu mandar mensagem.

"Amor, olha como acordei" — escreveu, junto da foto que revelava o dedo quase parecendo de uma múmia hidratada.

"Não sei o que aconteceu."
"Ahhh. Já sei!"

Pausa dramática.

Por alguns segundos ele ficou em silêncio, os olhos se arregalaram de novo, mas agora por outro motivo. A lembrança voltou como um flash. Aquela última movimentação noturna, os corpos entrelaçados, as respirações ofegantes, o clima abafado do quarto, a preguiça de se mexer depois da explosão final.

Na verdade, tudo começou algumas horas antes. Eles estavam naquele estado de torpor, meio sem fala, com os corpos largados como se não houvesse segunda-feira no calendário. Ela adormeceu primeiro, ainda com o quadril meio virado para ele, as pernas entreabertas, como quem convida o universo para continuar o que foi bom. Ele, sem forças para levantar, deixou a mão repousada ali, onde a noite ainda pulsava.

Com o tempo, o toque deixou de ser gesto e virou parte do cenário. A mão dele relaxou, os músculos afrouxaram, e o dedo... bem, o dedo continuou lá. Em contato direto com umidade, calor e uma das zonas mais sensíveis do corpo humano. A natureza fez o resto.

Enquanto dormia, seu cérebro entrava em ciclos profundos, mas o corpo continuava recebendo estímulos discretos. Era quase como se aquela conexão continuasse, de forma silenciosa, inconsciente. Uma presença delicada, mas contínua. Horas e horas ali. Um dedo esquecido. E umidade constante.

Na manhã seguinte, o resultado estava ali, claro como a luz que atravessava a persiana: o dedo estava murcho, como se tivesse passado a noite submerso. Mas era mais do que uma reação fisiológica. Era uma crônica do prazer, do descuido, da intimidade em estado bruto.

Talvez nenhum médico explicasse com precisão, mas qualquer um que já viveu um amor com química, corpo e liberdade suficiente para dormir colado daquele jeito, entenderia. Aquilo era mais. Era um tipo raro de confiança. Dormir com alguém dentro de você — ou dentro de alguém — exige um nível de entrega que poucas relações alcançam.

E então veio a constatação final. Não teve outra explicação.

Ele havia esquecido o dedo dentro dela.

A umidade, o calor, o ambiente perfeitamente acolhedor... e pronto. Dedo de molho. Durante horas. Como se tivesse dormido dentro de uma banheira. Só que uma banheira viva, quente, úmida e muito mais interessante.

E foi assim que ele acordou com o dedo todo enrrugado

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